Escribir-te otra vez ... - Salvador Novo
Escribir-te otra vez, ir al Correo;
Tocar mi lengua sus orillas frías;
Llevar la cuenta exacta de los días
Que hace que se efectuó nuestro himeneo.
Pensar que hace ya mucho que no veo
Tus ojos claros e tus manos mías;
Aguardar tu respuesta en las vacías
Horas en que en pensarte me recreo
Robar al sueño la ilusión de verte
Y a la vigilia el dulce de soñarte
Con temor y esperanza de perderte
No hallar tu imagen en ninguna parte;
Eso es amor, mi bien, y de esta suerte,
Vivo y muero tan sólo en aguardarte
(tradução para português de Glauco Mattoso)
Escrevo-te outra vez, vou ao correio
Beijar o selo, à beira do envelope
Teus lábios! Meu nariz, choroso, entope...
Vão dias, e a resposta inda não veio.
Teus claros olhos são, quando te leio
Tão nítidos na mente, se a galope
Me venha aquela angústia que me dope
Nas horas de saudade, meu recreio!
Ao sonho roubo o encanto de rever-te.
Me encanto, na vigília, com sonhar-te,
Temendo, no meu íntimo, perder-te.
Teu rosto penso achar em toda a parte
Amor, meu bem, é isso: ausência e flirt
Que mata e ressuscita. É sorte, ou arte.
Salvador Novo (Cidade do México, n. 30 July 1904 – m. 13 January 1974)
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