Blog Widget by LinkWithin

2014-08-04

A cor do cabelo - Delfim Guimarães

foto: Bébé daqui

Para ficar arquivado
No álbum da sua infância
Rescendente de fragrância
Um caracol foi cortado
Ao seu cabelo anelado.
Quando mais tarde, a distância
Bébé recordar a estância
Mais bela do seu passado
É natural que folheie
Este livro, e então se enleie
Num profundo meditar...
Como a côr do seu cabelo
Mudou tanto... foi o gelo
Do inverno que a fez mudar!

Delfim de Brito Guimarães (n. no Porto, em 4 de Agosto de 1872; m. na Amadora em 6 de Julho de 1933).


Ler do mesmo autor, neste blog:
Feiticeira
A Primeira Palavra
A Hora da Partida

Read More...

2014-08-03

Epitáfio - Políbio Gomes dos Santos (na passagem dos 75 anos do seu desaparecimento)

Menino, bem menino, fiz o meu balão
Papel de seda às cores...
- Tantas eram!
Ai, nunca mais as vi, nos olhos se perderam.
Quando a tarde morria o meu balão subiu
E tão direito ia, tão veloz correu
Que eu disse: "Vai tombar a Lua
E talvez queime o céu."

Anoiteceu.
E no horizonte o meu balão era uma rosa
Vermelha, não minha, aflitiva,
Murchando,
Poisando na água pantanosa
De além.

Ninguém o viu.
Ninguém colheu a angústia dum balão ardendo.
Somente a água verde rebrilhou acesa,
Clamorosa e podre,
Como nos incêndios de Veneza
E rãs, acreditando o mal mortal e seu
Foram fugindo, pela noite fria,
Do balão que ardeu.

Ó tu, quem sejas, o balão fui eu!

Políbio Gomes dos Santos (Ansião, 7 de agosto de 1911 — Ansião, 3 de agosto de 1939)

Do mesmo autor, neste blog:
Momento
Radiografia
Poema da Voz que Escuta
Testamento Aberto
Genesis

Read More...

2014-08-02

Ofício - Nauro Machado

Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui,
enchendo inúteis quilos de um metro e setenta
e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater
serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse
pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo,
para baixo sem cima, ponte umbilical
partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço
que ocupo, desnecessário espaço de pernas
e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado,
o mundo restará o mesmo sem minha quota
de angústia e sem minha parcela de nada.


Nauro Diniz Machado (nasceu em São Luís, Maranhão, a 2 de agosto de 1935)

Read More...

2014-08-01

Mistério de Ambos, de Cada Criatura - António Osório


Como recebeu ela Adão?
Despojou-o,
e o desflorou, ajudando?

Adão, brutal ou terno?
Acometeu, cervo
ou foi penetrante andorinha?

Arrancou de si
sementes, o coração
latindo, cão grato?

Felizes, torturantes,
aprendizes, falsos,
sortílegos, infames?

Inteiraram-se um no outro?
Desejaram a morte
de quantos séculos?
in «366 poemas que falam de amor»
Antologia organizada por Vasco Graça Moura,
Lisboa: Quetzal, 2003

António Gabriel Maranca Osório de Castro nasceu em Setúbal a 1 de agosto de 1933

 Ler do mesmo autor, neste blog:
Paciências
Um Sentido
Aqui em Siena
Prado e Cofre

Read More...

Musical suggestion of the day: Ney Matogrosso - Lábios de Mel (com Katia Guerreiro)



Ney de Souza Pereira, de nome artístico Ney Matogrosso, nasceu na Bela Vista, Mato Grosso do Sul a 1 de agosto de 1941.

Read More...