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2020-03-05

PRECE - Pedro Homem de Mello


Talvez que eu morra na praia
Cercado em pérfido banho
Por toda a espuma da praia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho

Talvez que eu morra na rua
Ínvia por mim de repente
Em noite fria sem lua
Irmão das pedras da rua
Pisadas por toda a gente

Talvez que eu morra entre grades
No meio duma prisão
E que o mundo além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração

[Talvez que eu morra dum tiro
Castigo de algum desejo
E que à mercê desse tiro
O meu último suspiro
Seja o meu primeiro beijo]

Talvez que eu morra no leito
Onde a morte é natural
As mãos em cruz sobre o peito…
Das mãos de Deus tudo aceito
Mas que morra em Portugal

in Adeus [1951]

Extraído de O Fado da Tua Voz, Amália e os Poetas, Vítor Pavão dos Santos
Bertrand Editora


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