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2017-07-25

Batuque - Henrique Guerra (na passagem do 80º. aniversário)



Na Imensidão da noite,
Longe, muito ao longe,
O som lúgubre do tambor ecoa…
Projecta-se no ar…
E corre
Salta
Voa
E num lamento profundo pelas negras terras se espalha…
Que novas trará?!
Será festa o seu significado?!
Quiçá uma dança de noivado,
O “muene” que está quase a morrer?!
Ou será guerra?!
Ou ainda a chuva, que na serra
Despontou
P’rá “machamba” não morrer!
E os negros dançam… e dançam…
À luz rubra das fogueiras
Seus corpos brilham p’lo suor,
Contorcem-se
E saltam… e saltam… e gritam,
No prazer da dança
No prazer do amor!…
Só Tandir não dança…
Nunca mais dançará!…
Distante e pensativo,
Olhos fitos na palhota de estuque
Pensa na negra Malua.
Que p’ra calar a cólera de Tumbine,
Deus da Serra
Ao som demoníaco do batuque
P’ra ele irá subir!
Esbelta e nua
A noiva de Tandir
A escultural Malua
E o ritmo soa agora mais forte,
Foge em disparada,
E ao negro distante vai anunciar
Que a hora da sacrifício chegou!…,
Tumbine espreita
Tumbine não dorme
E indiferente a Tandir,
Um riso macabro no seu rosto enorme,
Lá do alto chama Malua,
Que esbelta e nua
A serra subirá
P’ra ele a possuir!…
………………………………
Rompe a madrugada…
O tambor há muito se calou
Malua a serra já subiu
Seu corpo d’ébano Tumbine possuiu
E arrebatou sem piedade
P’ra toda a eternidade!…

Mas Malua não foi só!…
Tandir
Não resistiu à suprema dor da despedida!
Sua alma voa pelo espaço,
Unida à de Malua num abraço
Estranho e Forte…
Como a própria Morte!…

Quelimane, Outubro de 1959

Henrique Lopes Guerra nasceu em Luanda em 25 de julho de 1937


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