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2016-08-08

Poema quase apostólico - Ruy Belo



Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

Ruy de Moura Belo (n. em S. João da Ribeira, Rio Maior, em 27 de fevereiro de 1933; m. em Lisboa, a 8 de agosto de 1978).


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