Insónia - Carlos de Oliveira
Penso que sonho. Se é dia, a luz não chega para alumiar o caminho pedregoso; se é noite, as estrelas derramam uma claridade desabitual. Caminhamos e parece tudo morto: o tempo, ou se cansou já desta longa caminhada e adormeceu, ou morreu também. Esqueci a fisionomia familiar da paisagem e apenas vejo um trémulo ondular de deserto, a silhueta carnuda e torcida dos cactos, as pedras ásperas da estrada. Chove? Qualquer coisa como isso. E caminhando sempre, há em redor de nós a terra cheia de silêncio. Será da própria condição das coisas serem silenciosas agora?Terras da harmonia
Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; selecção, organização introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage; prefácio de Vasco Graça Moura.
Carlos Alberto Serra de Oliveira (n. em Belém do Pará, a 10 de agosto de 1921 e morreu em Lisboa a 1 de julho de 1981)
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