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2016-03-31

No Baile - Afonso Celso




Ontem ao contemplá-la decotada,
Ao primor do seu colo descoberto,
Senti-me tonto, da vertigem perto,
Fremente o pulso, a vista deslumbrada.

E, como em láctea fonte perfumada,
Sorvi-lhe sonhos mil no seio aberto,
Com a sede de um filho do deserto
Que encontre enfim a linfa suspirada.

Giram em derredor das níveas flores,
Sofregamente, insetos zumbidores ...
- Meus desejos então foram assim...

Mas arredei os olhos, de repente,
Pois meu olhar podia, de tão quente,
Crestar-lhe a fina cútis de cetim!

(in Poesias escolhidas)


Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr. nasceu em Ouro Preto (MG) a 31 de março de 1860 e expirou no Rio de Janeiro a 11 de julho de 1938. Doutorou-se em Direito em 1881 e foi deputado em 1882. Filho do visconde de Ouro Preto, acompanhou o pai no exílio após a proclamação da República (1889), mas era abolicionista, socialista e anticlerical. De regresso, abandonou a política, recebeu o título de Conde Romano, em 1905, graças à sua poesia religiosa, e veio a ser director da Faculdade de Direito do Rio. Foi um representante do parnasianismo, pois revela influência de Gonçalves Crespo, mas um talento versátil levou-o a dispersar-se pela ficção, teatro, crítica e história, conferências e discursos, trabalhos jurídicos, etc.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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