GRITO NEGRO - José Craveirinha
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
in Karingana Ua Karingana [Era uma vez] (1974)
José João Craveirinha (Lourenço Marques, atual Maputo, 28 de maio de 1922 — Maputo, 6 de fevereiro de 2003)
Ler do mesmo autor neste blog:
A Nossa Casa
Gumes de Névoa
Karingana ua Karingana
Um Homem Não Chora
Aforismo
Eu Quero Ser Tambor
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