Vou Morrendo Devagar - Domingos Caldas Barbosa
Eu sei, cruel, que tu gostas,
Sim gostas de me matar;
Morro, e por dar-te mais gosto,
Vou morrendo de vagar:
Eu gosto morrer por ti;
Tu gostas ver-me expirar;
Como isto é morte de gosto,
Vou morrendo de vagar:
Amor nos uniu em vida,
Na morte nos quer juntar;
Eu, para ver como morres,
Vou morrendo de vagar:
Perder a vida é perder-te;
Não tenho que me apressar;
Como te perco morrendo,
Vou morrendo de vagar:
O veneno do ciúme
Já principia a lavrar;
Entre pungentes suspeitas,
Vou morrendo de vagar:
Já me vai calando as veias
Teu veneno de agradar;
E gostando eu de morrer,
Vou morrendo de vagar:
Quando não vejo os teus olhos,
Sinto-me então expirar;
Sustentado d'esperanças,
Vou morrendo de vagar:
Os Ciúmes, e as Saudades
Cruel morte me vêm dar;
Eu vou morrendo aos pedaços,
Vou morrendo de vagar:
É feliz entre as desgraças,
Quem logo pode acabar;
Eu, por ser mais desgraçado,
Vou morrendo de vagar:
A morte, enfim, vem prender-me,
Já lhe não posso escapar;
Mas abrigado a teu Nome,
Vou morrendo de vagar.
Domingos Caldas Barbosa nasceu no Rio de Janeiro c. 1740, morreu em Coimbra a 8 de novembro de 1800)
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