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2015-08-01

Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata - António Osório

Gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.

Pela amizade,
que chega a confundir o amor.

Pela bondade,
que torna a solidão desvalida.

Pela hombridade,
à altura do céu.

Pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.

E é flagrante, perdulária,
noutros renascente.

Gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.

Pelas aves nutrindo os filhos
de penugem e voo.

Pela lentidão escrupulosa
da tartaruga, igual à de Plutão.

Pela leveza materna do vento
transportando pólen.

Pelo calor humílimo
da joaninha sobre a nossa mão.

E por estar na terra
uma só vez, ao sol,
nada pedindo, nenhum segredo,
como um velho lobo-do-mar.


António Osório , in "O lugar do Amor", Gota de Água, Porto, 1981

António Gabriel Maranca Osório de Castro nasceu em Setúbal a 1 de agosto de 1933

 Ler do mesmo autor, neste blog:
Paciências
Um Sentido
Aqui em Siena
Prado e Cofre


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