Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata - António Osório
Gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.
Pela amizade,
que chega a confundir o amor.
Pela bondade,
que torna a solidão desvalida.
Pela hombridade,
à altura do céu.
Pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.
E é flagrante, perdulária,
noutros renascente.
Gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.
Pelas aves nutrindo os filhos
de penugem e voo.
Pela lentidão escrupulosa
da tartaruga, igual à de Plutão.
Pela leveza materna do vento
transportando pólen.
Pelo calor humílimo
da joaninha sobre a nossa mão.
E por estar na terra
uma só vez, ao sol,
nada pedindo, nenhum segredo,
como um velho lobo-do-mar.
António Osório , in "O lugar do Amor", Gota de Água, Porto, 1981
António Gabriel Maranca Osório de Castro nasceu em Setúbal a 1 de agosto de 1933
Ler do mesmo autor, neste blog:
Paciências
Um Sentido
Aqui em Siena
Prado e Cofre
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