Ficaram-me as penas - Cassiano Ricardo
O pássaro fugiu, ficaram-me as penas
da sua asa, nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas.
Passou o vento mau, entre açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glórias terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.
A água correu veloz, fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria alma me despoje!
Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.
Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu
em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974.
Tarde no Campo
Quadro Antigo
A Desenterrada
Desejo;
O Sangue das Horas
Rotação
1 comments:
Mar Arável
disse...
Tudo pelo melhor
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