A Chuva Chove - Cecíla Meireles (na passagem do 50º aniversário do seu desaparecimento)
Chuva daqui
A chuva chove mansamente... como um sono
que tranquilize, pacifique, resserene...
A chuva chove mansamente... Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine...
E vem-me o sonho de uma véspera solene,
em certo paço, já sem data e já sem dono...
Véspera triste como a noite, que envenene
a alma, evocando coisas líricas de outono...
... Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
Com muita névoa pelos ombros da montanha...
Paço de imensos corredores espectrais,
onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
revira in-fólios, cancioneiros e missais...
(in A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa - Edições Unicepe, 2004)
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (n. no Rio de Janeiro a 7 de novembro de 1901 — m. no Rio de Janeiro, a 9 de novembro de 1964
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