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2014-10-14

Uma Pedra ao Lado da Evidência - Sebastião Alba

Deito-me na rede atada
Aos pináculos do fuso horário.

Tivessem os meus dias um dono
ao alcance da voz
que por mim cora; sem pejo
o adularia.

Este sulco em minha mão
que enruga a testa das ciganas
não vai mais longe o seu cavalo cego.

Que ilusória beleza
raia
um verso nado
e, dúplice, na ausência de ambos,
a cama estática.

Como dos deuses, descreio
da inspiração;
entre mim e a voz,
há um convívio silente.

Quando da avenida,
o alto repuxo de som
inunda a flat,
volvo eu à secura
íntima da água

Há poetas com musa. Muitos.
Eu, neste jardim do Éden,
a cargo do município,
onde um velho destece a sua vida
e, baixando o olhar,
ainda lhe afaga a trama,
quando a poesia se afoita,
amuo
na agrura de, ao acordar,
tê-la sonhado.


in A Noite Dividida/ o Limite Diáfano, Lisboa, Assírio e Alvim, 1996.

Dinis Albano Carneiro Gonçalves, cujo pseudónimo é Sebastião Alba, nasceu em Braga a 11 de março de 1940; faleceu em Braga a 14 de outubro de 2000.

Pai; quando falava no futuro
Envelheces, Rapaz


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