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2014-08-08

Ode Quarta, de Odes ao Tejo - Armindo Rodrigues

(…)

Só vadios e poetas te queremos,
meu Tejo antigo, eternamente novo.
E, contudo, és as vértebras de um povo.
Um bote surge chapinhando os remos,
Enquanto eu com um pé as águas movo.

De repente, a distância, uma voz grave
Canta, e a lua torna-se maior.
Desfolha-se a canção como uma flor.
Rio umas vezes rude, outras suave,
és tu que cantas, ou a nossa dor?

Se o José Gomes não estivesse aqui,
tenho a certeza de que choraria,
deste misto de raiva e nostalgia
que sinto ao lembrar-me que perdi
o mundo justo em que em menino cria.

A equidade a que aspirei secou.
Por isso o desalento é-me cruel,
cruel é-me a veemência que o repele,
sai-me cruel até o próprio dó.
Por isso me é, não raro, a vida fel.

Mudos voltamos ao Rossio onde
há sempre um vão rumor de gente vã.
Torna-se a alegria brusca e sã.
Também depois da noite que nos esconde
romperá uma lúcida manhã.


Extraído de Antologia da Poesia Portuguesa 1940-1977, Moraes Editora - Lisboa, 1979, vol. I, pp. 121-122)
Autoras: M. Alberta Menéres e E. M. de Melo e Castro; nº 89 da colecção Círculo de Poesia.

Armindo José Rodrigues (Lisboa, 1904 – Lisboa, 8 de agosto de 1993)

Nota do Webmaster: Neste dia 8 de agosto assinala-se também a passagem do 36º aniversáriio do desaparecimento de Ruy Belo (27.2.19333 - 6.8.1978) que está vastamente divulgado no Nothingandall
Pode ler vários poemas deste autor aqui


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