No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas trazemos Alberto Costa e Silva, prémio Camões 2014
Nada quis ser, senão menino. Por dentro e por fora, menino.
Por isso, venho de minha vida adulta como quem esfregasse na
pureza e na graça o pano sujo dos atos nem sequer vazios, apenas
mesquinhos e com frutos sem rumo.
Como se escovar os dentes fosse montar num cavalo e levá-lo a
beber água ao riacho! Como se importasse à causa humana ler os
jornais do dia!
Era melhor, talvez, ficar olhando, completo, perfeito, os calangos
a tomar sol no muro, sem trair o silêncio, sentindo o dia, para
conhecer o mundo, para saber que estou vivo.
Se não se têm esses olhos de infantil verdade, todas as cousas nos
enganam, tornam-se as palavras sem carne com que construímos a
árida abstração que é o curral dos adultos.
Depois dos quinze anos, quase nada aprendemos: a dar laço em
gravatas, por exemplo.
Publicado no livro Alberto da Costa e Silva carda, fia, doba e tece (1962).
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva (São Paulo, 12 de maio de 1931)
Do mesmo autor já trouxemos aqui no Nothingandall: Poema de Aniversário
1 comments:
Luma Rosa
disse...
Oi, Fernando!
Também gostaria de voltar a ser criança, pois como diz a poesia, o mundo dos adultos é mesmo um curral.
Boa semana!!
Beijus,
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