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2014-05-08

À Espera - Batista Cepelos

photo: Waiting at the pier - Stephen Rosenfeld

Com sua voz assustadinha e doce,
doce como um trinar de passarinho,
ela me disse que esperá-la fosse,
fosse esperá-la à beira do caminho.

Mas o tempo da espera prolongou-se,
prolongou-se demais! E, então, sozinho,
passei o dia. Veio a tarde e trouxe,
trouxe arrulhos de amor, de ninho em ninho.

Desespero. O silêncio me tortura.
Mas, de repente, alvoroçado, escuto
um farfalhar de folhas na espessura.

Ela chega e tão linda, de maneira
que só para gozar este minuto
eu a esperaria a minha vida inteira.


Manuel Batista Cepelos nasceu em Cotia (SP) a 10 de Dezembro de 1872 e morreu no Rio de Janeiro a 8 de Maio de 1915. Alistou-se no Corpo Policial Permanente de São Paulo e foi promovido a alferes em 1891, ano em que a corporação foi extinta, ingressando no Exército como tenente e tomando parte na campanha do Paraná, em 1894. Promovido a capitão no ano seguinte, participou na campanha de Canudos (BA), em 1896. Concluída a formatura pela faculdade de Direito (SP) em 1902, obteve a reforma militar, tentando a advocacia e a magistratura e chegando a promotor de Justiça. Jornalista e poeta simbolista, se a sua vida fora ensombrada por uma tragédia (a sua noiva foi assassinada pelo próprio pai, que de seguida se suicidou), rematou com outra: encontrado morto numa pedreira do Rio, nunca se conseguiu apurar a causa da morte (suicídio ou crime?).

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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