O AUTÓGRAFO - João Cabral de Melo Neto
Calma ao copiar estes versos
antigos: a mão já não treme
nem se inquieta; não é mais a asa
no voo interrogante do poema.
A mão já não devora
tanto papel; nem se refreia
na letra miúda e desenhada
com que canalizar sua explosão.
O tempo do poema não há mais;
há seu espaço, esta pedra
indestrutível, imóvel, mesma:
e ao alcance da memória
até o desespero, o tédio.
Extraído de Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
selecção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos. Edições Antígona
João Cabral de Melo Neto (n. no Recife, a 9 Jan 1920, m. no Rio de Janeiro a 09 Out 1999).
Do mesmo autor:
Dificil Ser Funcionário
Paisagem pelo Telefone
Tecendo a Manhã
O Luto no Sertão
A Mulher e a Casa
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A Educação pela Pedra
1 comments:
Luma Rosa
disse...
Oi, Fernando!
Versos cabralinos, a.do.ro!!
No livro “Museu de Tudo” em que foi publicado esse poema, há outros dois poemas que me quebram em oito: “A Bola” e outro sobre o número quatro, ‘(…)posto em patas’.
Beijus,
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