Versos Íntimos - Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Nota do webmaster: A poesia também serve para traduzir «a nudez crua da verdade sob o manto diáfano da fantasia». Ao ler este soneto de Augusto dos Anjos não posso deixar de lembrar-me de «Palavras Cínicas» de Albino Forjaz de Sampaio. Pois, «a mão que afaga é a mesma que apedreja».. a boca que beija é a mesma que escarra... É a vil verdade!... Aproveita o afago e o beijo ... enquanto duram...
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (n. no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884; m. em Leopoldina em 12 de novembro de 1914.
Ler do mesmo autor:
O Sonho, a Crença e o Amor
Ao Luar
A Ideia;
Tempos Idos;
Versos Intimos;
Soneto (canta teu riso...)
O Fim das Coisas
Budismo Moderno
O sonho, a crença e o amor
A Esperança
Contrastes
Psicologia de Um Vencido
Debaixo do Tamarindo
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