Blog Widget by LinkWithin

2013-09-30

Apelo - Paulo Bonfim


...Mas deixai-me poetar
Em nome dos que não sonham,
Dos que calçam desespero
Em percursos cotidianos,
Dos que cruzam confluências
Com pára-brisas de tédio,
Dos fugitivos, nos bares,
Dos vencidos que se amam,
Dos inocentes que esperam.
...Mas deixai-me poetar
Neste esvair sem sentido
Com palavras indomadas,
Ou com vocábulos mansos.
– Que eu cante a vida que passa
E os destinos sem destino
– Que eu cubra de redondilhas
As damas da madrugada,
E meus versos sejam potros
Onde as crianças galopem,
Lona de circo estelante
Vestindo a fome do mundo,
Valsa brisa em realejo
Na esquina dos desencontros.
Sei da lógica das máquinas,
Das avenidas neuróticas,
Do roubo das alvoradas
E dos anjos que se matam.
Sou feito de tudo e nada.
...Mas deixai-me poetar!

Paulo Lébeis Bomfim (São Paulo, 30 de setembro de 1926)

Ler do mesmo autor, neste blog: Cantiga do Desencontro
Soneto I de Transfiguração


0 comments: