Não é do Poeta o Silêncio - Cândido da Velha (na passagem do 80º aniversário)
1
Não é do Poeta o silêncio
quando as palavras entoam
ecos nas dobras dos ventos
Não é do Poeta calar
que das margens do silêncio
seus passos se ouvem no tempo
2
Sai a frase por dentro
do sofrimento. À superfície
edifica a descoberta
de coisas por dizer
Sai a frase de quem morre
de tanto por se falar
Sai o morto entra a frase
quem a poderá herdar?
3
Sempre o homem se habitua
à paisagem dos seus olhos
sua área de cansaço
quando a semente do sonho
vertical perfura o espaço
Os anos passam. Menor a sujeição
Abre-se a terra: pão e sepultura
— Hão-de os desertos dar fruto
Por cada sonho enterrado
mais desejado é o luto.
(in “Cântico em honra de Miguel Torga”, Ed. Fora do Texto, Coimbra, 1996)
Cândido Manuel de Oliveira da Velha nasceu a 18 de Julho de 1933, em Ílhavo, no distrito de Aveiro,
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