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2013-02-20

Poema de Outra Viagem ao Porto - Vitorino Nemésio

Noite movida, meu corpo é uma hora antes
Caixa de sangue pronta a amplo socorro.
Eu vou como as manhãs e as sarjas aos doentes:
Sou eu mesmo que morro.
Falto como o menino à vida, escola de ermos.
Quem me dará meus anos, se os perdi?
Só Deus tem paz onde homens gume e fogo,
Do mais não resolvi.
Aqui lá de astro quem
Sobre as águas adusto,
Que nem vendo direi se cumpro ou rego flor?
Tu darás às palavras o que é delas
Como altura com vidros dá janelas
E amor é quando se tem.
Assim te reproduzes.
No redondo das rosas adianto
Como tempo é minha alma por jardim.
Agora não sei mais. Vou para o Porto
Timbre de honra é morar limpo no espanto.
Eu pessoalmente morto.


Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (n. Praia da Vitória, 19 de Dezembro de 1901 — m. Lisboa, 20 de Fevereiro de 1978)
Ler do mesmo autor:
Já um pouco de vento se demora
Outro Testamento
Semântica electrónica
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