Elvira - Adolfo Werneck
Ao Hypolito Pereira
Olhos de estrela que a treva espanca,
Que a treva esgarça...
Passa, perpassa de branco, branca.
Como uma garça.
Ao sol ardente que lírios cresta
Resplende a coma,
De onde se evola o suave aroma
De malva e giesta.
Lábios vermelhos, macia rosa
De rubra cor;
Divina boca, boca olorosa.
Como uma flor.
Pisa de manso, com tanta graça,
Mal se presente...
Parece uma ave quando esvoaça
Serenamente.
Em coro dizem todos ao vê-la
Passar tão leve:
"Visão sublime de um sonho breve!
Rútila estrela!
Astro que d'alma desfaz a treva
Mito, fantasma,
Quimera, duende, sonho que enleva
Seduz e pasma"!
***
Lírio dos lírios! Ó branco lírio!
Ó flor! Ó luz!
Esgarça a treva do meu martírio,
Tira-me a cruz...
Ando arrastado pelo caminho
Da desventura!
Nem um consolo, nem um carinho
De uma alma pura!...
Ermo de afectos me vejo agora
Ó luz! Ó flor!
Faze-me n'alma surgir a aurora
Fulva do amor.
Lírio dos lírios! Ó branco lírio!
Ó flor sem par!
Espanca a treva do meu martírio
Com teu olhar.
Poema daqui com atualização da grafia
Adolpho Jansen Werneck de Capistrano (Morretes, 3 de dezembro de 1879 — Curitiba, 18 de agosto de 1932)
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