PRIMEIRA CHUVA - Bernardo Élis
Quentura de noite pejada de nuvens baixas e negras. Bambos bamboleios de trovão soturno batendo o tímpano bambo da zabumba do horizonte. Trovão apagado, saudoso, distante. Depois a chuva em grossos pingos sobre os telhados, Na poeira ressequida das estradas, na terra requeimada das queimadas, desprendendo um cheiro forte de gestação. (Mamãe molhava algodão em cachaça canforada E nos dava para cheirar: cuidado com defluxo!) Amanhã tudo vai começar de novo: as folhas voltarão aos galhos secos, as águas resmungarão nas grotas mortas, os pássaros do céu hão de cantar no cio... (E aquela que partiu porque não volta?) Lá fora uma goteira numa lata pinga, pinga a pingo, pengue, pengue, numa toada monótona de preta que ninasse. Pengue, pengue, pingo a pingo. (E aquela que partiu, Porque não volta?)
Bernardo Élis Fleury de Campos Curado (Corumbá de Goiás, 15 de novembro de 1915 — Corumbá de Goiás, 30 de novembro de 1997)
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