Blog Widget by LinkWithin

2012-06-04

Uma Pequenina Luz - Jorge de Sena

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978.

Ler neste blog do mesmo autor:
Carta a Meus Filhos Sobre os Fuzilamentos de Goya
Como Queiras, Amor...
Génesis VI
Suma Teológica
Glosa À Chegada do Outono
Amo-te muito meu amor
Fidelidade
A diferença que há...
Rígidos seios de redondas, brancas..


2 comments:








Anónimo

disse...

Grande poema. Ouvi o Autor lê-lo, no Porto em 1969.
Abraço,
Rui





Luma Rosa

disse...

Adoro Jorge de Sena e ganhei um livro de poesias de um amigo "Metamorfoses", que estou sempre lendo! Ah, foi você que me apresentou ele.
Boa semana!! Beijus,