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2012-06-14

As Coisas / Las Cosas - Jorge Luís Borges

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.

Trad. de Ferreira Gullar (extraído daqui)

ORIGINAL

LAS COSAS

El bastón, las monedas, el llavero,
la dócil cerradura, las tardías
notas que no leerán los pocos días
que me quedan, los naipes y el tablero,
un libro y en sus páginas la ajada
violeta, monumento de una tarde
sin duda inolvidable y ya olvidada,
el rojo espejo occidental en que arde
una ilusoria aurora. Cuántas cosas,
limas, umbrales, atlas, copas, clavos,
nos sirven como tácitos esclavos,
ciegas y extrañamente sigilosas
durarán más allá de nuestro olvido;
no sabrán nunca que nos hemos ido.

In: Elogío de la Sombra, 1969

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (n. em Buenos Aires a 24 de agosto de 1899; f. Genebra 14 de junho de 1986).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Cosmogonia
Soneto do Vinho
Arte Poética
The Art of Poetry
Do que nada se sabe
Limites;
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