O Soneto - Julio Dantas
Ó florentino túmulo de prata!
Ó sepultura de catorze versos!
Demais viveu em ti, aprisionada,
A asa vibrátil do meu pensamento!
Demais sofri a dura disciplina
Do teu chicote de catorze pontas,
Soneto arcaico, inquisidor vermelho,
Que Petrarca há seis séculos gerou!
Ó taça antiga de catorze gomos,
Taça de oiro de Guido Cavalcanti,
Bebi por ti, mas atirei-te ao mar!
Não se ouvem mais os címbalos da rima!
Asa liberta, voa em liberdade!
Jaula de bronze, estás aberta, enfim!
Extraído de Antologia de Poemas Portugueses Modernos, por Fernando Pessoa e António Botto,
Ática Poesia
Júlio Dantas (Lagos, 19 de Maio de 1876 — Lisboa, 25 de Maio de 1962)
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