É tarde! - Augusto Emílio Zaluar
É forçoso... não posso por mais tempo
Conter a acerba dor que me lacera;
Tem limites o humano sofrimento,
Que há-de ao coração dizer - espera?
Esperar! Quando sinto a cada instante
As minhas ilusões desvanecer-se;
E de meu peito ao arquejante abalo
Pouco a pouco a existência desprender-se!
Esperar! Quando vejo que a fortuna
Que sonhava tão alto em meu transporte
Se converte em promessa enganadora,
Pois onde cria a vida, encontro a morte!
Esperar! Tu não sabes o que pedes;
Não pesaste o valor dessa palavra!
É tarde! é muito tarde! Agora em chamas
O incêndio fugaz devora e lavra!
E tiveste a coragem reflectida,
De fria calcular os meus tormentos,
E rir do meu sofrer! rir de ti mesma!
E zombar dos mais santos pensamentos?!
Tão moça e tão descrente! Onde aprendeste
Essa lição fatal do desengano?
A dúvida que pousa junto ás campas,
Revelou-te no berço o negro arcano?
Oh! não, não acredito em teus receios:
O meu provado amor já não se ilude;
Tu pões a glória tua em ser-me infensa
Eu em ser-te fiel minha virtude?
Tu calculas, invocas mil pretextos,
Pensas, reflectes com sossego e calma;
Sujeitas à razão teus sentimentos;
Os meus são espontâneos da minh'alma.
És feliz! Foste tu quem o disseste:
Goza em paz essa máxima ventura;
Não irão perturbar os teus prazeres
Os queixumes da minha desventura!
Um dia, talvez digas, se a memória
Do meu amor na mente conservares;
"Extremos como os seus nunca mais tive!
Matou-o o meu desprezo e seus pesares!
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