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2012-02-12

Distribuição do Tempo - Julio Cortázar

Cada vez são mais os que crêem menos
Nas coisas que preenchem as nossas vidas,
Os mais altos, os incontestáveis valores de Platão e Goethe,
O verbo, a pomba sobre a arca da História,
A sobrevivência da obra, a descendência e as heranças.

Nem por isso caem do céu do neófito
Na ciência que expõe máquinas na lua;
Na verdade, tanto faz que o doutor Barnard
Faça transplantes do coração
Era preferível mil vezes que a felicidade de cada um
Fosse o exacto, o necessário reflexo da vida
Até que o coração insubstituível pudesse dizer simplesmente basta.

Cada vez mais são os que crêem menos
Na utilização do humanismo
Para o nirvana estereofónico
De mandarins e estetas.

Sem que isto queira significar
Que quando houver um instante de inspiração
Não sei leia Rilke, Verlaine ou Platão,
Ou se escute os nítidos clarins,
Ou se vislumbre os trémulos anjos
De Angélico.

Trad. Jorge Henrique Bastos, in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Julio Cortázar [Jules Florencio Cortázar] n. na Embaixada Argentina em Bruxelas a 26 Ago. 1914; m. 12 Fev. 1984 em Paris, França.

Ler do mesmo autor: El Breve Amor; Happy New Year


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