AS ÁGUAS - Onésimo da Silveira
A chuva regressou pela boca da noite
Da sua grande caminhada
Qual virgem prostituída
Lançou-se desesperada
Nos braços famintos
Das árvores ressequidas!
(Nos braços famintos das árvores
Que eram os braços famintos dos homens...)
Derramou-se sobre as chagas da terra
E pingou das frestas
Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas
E escorreu do dorso descarnado dos montes!
Desceu pela noite a serenar
A louca, a vagabunda, a pérfida estrela do céu
Até que ao olhar brando e calmo da manhã
Num aceno farto de promessas
Ressurgiu a terra sarada
Ressumando a fartura e a vida!
Nos braços das árvores...
Nos braços dos homens...
(Hora grande, 1962)
Onésimo da Silveira nasceu no Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, a 10 de Fevereiro de 1935
0 comments:
Enviar um comentário