Centenário de Odysséas Elýtis, Prémio Nobel da Literatura em 1979
Abro a minha boca e o mar se regozija
E leva as minhas palavras a suas escuras grutas
E às suas focas pequenas as murmura
Nas noites em que choram os tormentos do homem.
Abro as minhas veias e enrubram-se os meus sonhos
Transformam-se em arcos para os bairros dos meninos
E em lençóis para as raparigas que velam
Para ouvir às ocultas os prodígios do amor.
Aturde-me a madressilva e desço ao meu jardim
E enterro os cadáveres dos meus mortos secretos
E às estrelas traídas que eram suas
Corto o cordão dourado pra caírem no abismo
O ferro enferruja e eu castigo o seu século
Eu que já experimentei a dor de mil pontas
Com violetas e narcisos a nova
Faca vou preparar que convém aos Heróis.
Desnudo o meu peito e os ventos se desatam
E vão varrer as ruínas e as almas destruídas
Das espessas nuvens limpam a terra
Pra que surjam à luz os Prados encantados.
Tradução de Manuel Resende.
Odysséas Elytis (Οδυσσέας Ελύτης), pseudônimo de Odysseas Alepoudelis, nasceu em Iráklio, na ilha de Creta no dia 2 de Novembro de 1911. Faleceu no dia 18 de Março de 1996.
1 comments:
Amélia
disse...
Bom que tenha recordado Elytis, um dos grandes poetas gregos do s.XX -os outros, em meu entender, são Kavafys e Ritsos.Terra de poetas e filósofos - infelizmente de naus governantes.
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