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2011-10-31

Mãos Dadas - Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade, selecção, introdução e Notas de Jorge Henrique Bastos, Antigona

Carlos Drummond de Andrade (n. Itabira, 31 de Outubro de 1902 — m. Rio de Janeiro, 17 de Agosto de 1987).

Ler do mesmo autor neste blog:
Além da Terra, além do Céu,
Quero
O amor antigo
Indagação
Amar
Qualquer Tempo
A Língua Lambe
Quarto em Desordem
A Falta de Érico
A Hora do Cansaço


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