Magdalena - Hamilton Araújo
Ah, ter eu sido a cortesã! - dizia
ao Cristo a Madalena soluçante...
Ah, ter eu sido a lúbrica bacante,
a rainha gentil de tanta orgia!...
Ah, não ter eu adivinhado, um dia,
esse teu coração. formoso e amante!
Nunca o meu corpo, branco e luxuriante,
em mil festins, impúdica, exporia!
Depois, ficava olhando o Cristo pálido...
Um finíssimo aroma, estranho e cálido,
como um sonho de amor, dela irradiava...
Vinha passando um místico noivado...
E o Cristo, ansioso, em lágrimas banhado:
- Ter sido ela a cortesã! - pensava...
Poema extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
Hamilton de Araújo nasceu na Régua em 1868 e faleceu no Porto, tuberculoso, a 8 de Agosto de 1888.
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