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2011-06-13

Ser e Não Ser - José Bonifácio

Se te procuro, fujo de avistar-te
e, se te quero, evito mais querer-te;
desejo quase... quase aborrecer-te,
e, se te fujo, estás em toda parte.

Distante, corro logo a procurar-te
e perco a voz e fico mudo ao ver-te;
se me lembro de ti, tento esquecer-te
e se te esqueço, cuido mais amar-te.

O pensamento assim partido ao meio
e o coração assim também partido,
Chamo-te e fujo, quero-te e receio.

Morto por ti, eu vivo dividido;
entre o meu e o teu ser sinto-me alheio
e, sem saber de mim, vivo perdido!


José Bonifácio Ribeiro de Andrada Machado e Silva nasceu em Santos (SP) a 13 de junho de 1763 e faleceu em Niterói (RJ) a 6 de Abril de 1838. Bacharelou-se em Direito Civil e Filosofia Natural pela universidade de Coimbra e doutorou-se em 20 de junho de 1801. Entretanto, recebera uma bolsa de estudo (1790), que lhe permitiu viajar, durante uma década, por França, Alemanha, Itália, Inglaterra e Escandinávia, onde frequentou universidades, museus, bibliotecas, instituições científicas, laboratórios, minas e instalações fabris de fundição de metais, e contactou os maiores sábios, desde Lavoisier a Alexandre von Humboldt, tornando-se assim um naturalista, mineralogista e geólogo de reputação internacional. Dominava, aliás, meia-dúzia de línguas. Leccionou Geognosia e Metalurgia na universidade onde se formara, chegou a tenente-coronel do batalhão académico durante as invasões francesas, foi intendente da polícia no Porto e secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa (1812/1819). Nesta última data, regressou ao Brasil e, em 1822, era Ministro dos Negócios Estrangeiros, mas conheceu o exílio em França, de 1823 a 1829. Foi então que aproveitou para publicar os seus poemas, sob o pseudónimo de Américo Elísio, «Poesias Avulsas» (Bordéus 1825), revelando-se um autor de transição entre o Arcadismo e o Romantismo. Devido à sua acção no domínio político, é considerado o Patriarca da Independência Brasileira.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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