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2010-07-31

Pára-me de repente o pensamento - Angelo de Lima

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.


Ângelo Vaz Pinto Azevedo Coutinho de Lima nasceu no Porto a 31 de Julho de 1872 e morreu louco em Lisboa a 14 de Agosto de 1921. Era filho do poeta Pedro Augusto de Lima (1842/83), que também morrera louco. Frequentou o Colégio Militar e a Academia de Belas Artes do Porto. Após uma breve estadia em África, regressou de Moçambique com perturbações mentais, pelo que foi internado, em 1894, no Hospital do Conde de Ferreira (Porto), onde permaneceu até 1898 mas, em 1900, sofreu novo internamento no manicómio de Rilhafoles, em Lisboa, até ao fim da vida. Colaborou no nº. 2 da revista «Orpheu» (1915). A sua poesia é caracterizada por desvios danorma: sincopada e fragmentada, associações desconexas, confusão entre objectivo e subjectivo, procura do vago e misterioso, uso imoderado das maiúsculas, etc. A princípio simbolista, é um precursor do surrealismo, mas a sua obra tem mais interesse psiquiátrico do que literário. O soneto que inserimos nesta colectânea não tem, no original, qualquer sinal de pontuação.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Nota: algumas fontes dão como data de nascimento 30 de Julho de 1872 em vez de 31 de Julho do mesmo ano. Se algum leitor tiver informações adicionais sobre esta questão agrademos o contacto ou comentário.

Pode ler do mesmo autor, neste blog:
Eu Ontem Vi-te
Não Tinha
Estes Versos Antigos


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