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2010-03-02

Infante - I - Luís de Montalvor

Baby! Sossega a tua voz. Não digas mais
essas canções do Mundo. Deixa... que eu esqueço
que fui menino ao colo de seus pais.
Deixa! que o coração em si mesmo o adormeço...

Com olhos de criança olho os desiguais
dias e nuvens, sós, passando, e empalideço...
Canto de Prometeu todo desfeito em ais!
E a vida, a vida até, brinquedo que aborreço...

Mundo dos meus enganos - como a desventura -
Experiência? - pobre fumo! anela o meu cabelo
e põe-me o bibe azul e antigo da Ternura...

Que a vida, essa Babel desfeita que se embala,
ainda é para mim - criança de Deus - pesadelo
da infância das fanfarras, fogo de Bengala!

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; selecção, organização introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage; prefácio de Vasco Graça Moura.

Luís da Silva Ramos, que usou o pseudónimo de Luís de Montalvor, nasceu em S. Vicente, Cabo Verde, a 31 de Janeiro de 1891 e faleceu em Lisboa a 2 de Março de 1947).

Ler do mesmo autor, neste blog: Tarde


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