A Vida da Morte - Miguel de Unamuno
Ouvir chover, não mais, sentir-me vivo;
o universo convertido em bruma
em cima a consciência como espuma
por onde as compassadas gotas crivo.
Morto em mim tudo quanto seja activo,
enquanto toda a visão a chuva esfuma,
e, lá em baixo, o abismo onde se suma
da clepsidra a água; e o arquivo
desta memória, de lembranças mudo;
o ânimo saciado em inércia forte;
sem lança e, por isso, já sem escudo,
tudo à mercê dos vendavais da sorte;
este viver, que é o viver desnudo,
- não é acaso o viver da morte?
in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea - Selecção e Tradução de José Bento, Assírio & Alvim
Miguel de Unamuno y Jugo (n. Ronda del Casco Viejo (Bilbau), 29 de Setembro de 1864 –m. Salamanca, 31 de Dezembro de 1936)
1 comments:
www.gloriosasfera.com
disse...
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