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2009-09-17

Meu Menino Ino, Ino - José Régio (na passagem do 108º aniversário)

 
imagem daqui
1
Dos versos que exprimem,
Estou cansado!

Das palavras que explicam,
Estou cansado!

Dos gestos que explodem,
Estou cansado!

Ai, embala-me, fútil, e frágil, no ó-ó dos teus versos,
Ai, encosta-me ao peito...!

Mais não quero que ser embalado.

2
O menino está doente...
-Diz a mãe.

Qui-é qui-é
Que o menino tem?

Ai!
Diz o pai.

A criada velha chora pelos cantos
E reza a todos os santos...

Afirma o senhor doutor
Que amanhã que está melhor.

O pai suspira:
-Quem sabe lá?!

E o menino diz:
-Papá...!

A mãe chora:
-Quem já me dera amanhã!...

E o menino diz:
-Mamã...!

E, com a febre, rezinga,
E choraminga,
Olhando a lua amarela
Como uma vela:
-Quero aquela péla...!

Mas o Pai do Céu sorri:
-Vem cá vê-la!
É para ti.

3
-Acabaste?

-Meu amor, acabei.

-Apagaste a candeia? apagaste?

-Meu amor, apaguei.

-E fechaste o postigo? e fechaste?

-Meu amor...sim, fechei.

-Que rumor é aquele? não sentes?

-Meu amor, que importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes...

-São gentes? Quem são?

-São colegas, amigos, parentes...

-Vai dizer-lhes que não! Vai dizer-lhes que não!
in As Encruzilhadas de Deus, José Régio, Obras Completas, Portugália Editora

José Maria dos Reis Pereira (nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901 — m. em Vila do Conde, 22 de Dezembro de 1969)

Ler do mesmo autor neste blog:
Poema do Silêncio


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