Maresia - António Pedro (no 43º. aniversário do falecimento)
Neste mar à minha frente
O sol repoisa e os nossos olhos dormem...
- caem saudades mortas como chuva miúda,
Ou sobrem, trémulas, como o vapor das algas,
Ou ficam, extáticas como um bafo dea areia,
Calmas, sobre a paisagem,
Como um véu de cambraia deixado...
Não sei se é o calor das algas,
Se é o bafo da areia que baila,
Ou se é a chuva miúda que cai neste dia de sol
Como um véu de cambraia deixado,
Sei que me lembram os signos do zodíaco
Em boa caligrafia,
Uns signos como nem sequer eu tinha imaginado!...
E este calor que dimana da terra e nos confunde com ela,
Nos aquece as pernas de encontro à areia, numa vida exterior
Com mais sangue que a nossa e, sobretudo, cheia
Duma inconsciência que não se parece com nada,
Esta respiração pausada como as ondas, de traás para diante
Fazendo, lentas, e desfazendo
A mesma curva humaníssima e sensível,
Faz-me escrever, devagar, e com letra de menino pequeno
Sobre o chão acamado, esta palavra
AMOR.
António Pedro da Costa (nasceu na Cidade da Praia, 9 de Dezembro de 1909 — m. Moledo, Caminha, 17 de Agosto de 1966)
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