ERA UMA VEZ… - Adolfo Simões Muller (na passagem do 20º aniversário da sua morte)
Quando eu era pequenino,
gostava de ouvir contar
histórias de princesinhas
encantadas ao luar.
Havia então lá em casa
uma criada velhinha,
a Sérgia contava histórias
– e que graça que ela tinha!
Lendas de reis e de fadas,
inda me incheis a lembrança!
Que saudades de vós tenho,
ó meus contos de criança!
"Era uma vez…" As histórias
começavam sempre assim;
e eu, então, sem me mexer,
ouvia-as até ao fim.
Lembro-me ainda tão bem!
Os irmãos à minha beira,
calados! E a boa Sérgia
contava desta maneira:
"Era uma vez…" E depois,
olhos fitos nos seus lábios,
ouvia contos sem conta
de gigantes e de sábios…
"Era uma vez…" E, por fim,
a voz da Sérgia parava…
E assim como eu te contei
era como ela contava.
Ai! que saudade, que pena,
que nos meus olhos tu vês!
Eu sentava-me e ela, então,
começava: - "Era uma vez…"
In "O Príncipe Imaginário e Outros Contos Tradicionais Portugueses"
Adolfo Simões Müller (n. em Lisboa, 18 de Agosto de 1909; m. em 17 de Abril de 1989)
Ver do mesmo autor, neste blog:
Poetas Malditos
O mistério da palavra
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