Eu vi uma pastora... - Xavier de Matos
Eu vi uma Pastora em certo dia
pelas praias do Tejo andar brincando,
os redondos seixinhos apanhando,
que no puro regaço recolhia.
Eu vi nela tal graça que faria
inveja a quantas há; e o gesto brando
com que, o sereno rosto levantando,
parece namorava quanto via.
Eu vi o passo airoso, a compostura
com que, depois, me pareceu mais bela,
guiando os cordeirinhos na espessura.
Eu o digo de todo; vi a Estela:
de graça, de candor, de formosura,
só poderei ver mais tornando a vê-la.
João XAVIER DE MATOS nasceu próximo de Lisboa em 1730 e faleceu em Vila de Frades (Alentejo) a 3 de Novembro de 1789. Cursou Cânones na universidade de Coimbra e foi ouvidor na Vidigueira (Alentejo). Entre 1752 e 1770, residiu no Porto, onde se apaixonou por uma freira. Em 1763, foi preso por agressão a um padre. Pertenceu à Arcádia Portuense, com o nome de Albano Erithreo. Era um devoto da poesia camoniana.
Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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