Senhora minha ... - Garcilaso de la Vega
Senhora minha, se de vós ausente
esta vida mantenho e persevero,
parece-me que ofendo o que vos quero,
e o bem que gozava em ser presente;
logo após este, sinto outro acidente,
que é ver que, se da vida desespero,
eu perco quanto bem de vós espero,
e ando assim no que sinto diferente.
E nesta oposição os meus sentidos
estão, em vossa ausência e em porfia;
não sei o que fazer em mal sem fim;
um contra o outro andam aguerridos;
de tal modo que pelejam noite e dia
que só estão de acordo contra mim.
Trad. José Bento
in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Original
Señora mia, si yo de vos ausente,
en esta vida turo y no me muero,
paréceme que ofendo a lo que os quiero
y al bien de que gozava en ser presente;
tras éste luego siento otro acidente,
que’ s ver que si de vida desespero,
yo pierdo quanto bien de vos espero,
y ansí ando en lo que siento diferente.
En esta diferencia mis sentidos
están, en vuestra ausencia, y en porfía;
no sé ya qué hazerme en mal tamaño;
nunca entre sí los veo sino reñidos;
de tal arte pelean noche y día
que sólo se conciertan en mi daño.
Garcilaso de la Vega (n. Toledo 1501 – m. em Nice, França a 14 de Out. de 1536).
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