Eu - Américo Durão
O vago em Mim concebo e realizo,
Vivo no que há-de ser!
A minha vida é feita de impreciso,
E tenho-me esquecido de a viver!
Eu não tenho passado nem futuro.
Sei lá se vivo ou não!
Sou um sonho de Deus, uma visão.
Abraçando na vida um sonho escuro…
Sou o Passado em sombras, e o Futuro em brumas.
Não sou porque não sou, e mais não sei dizer!
- Alegrias são leves como espumas,
Mágoas são vidas no Inferno a arder!
Eu sou, Jesus, o eco do teu medo:
Por isso eu amo as coisas de que tremo…
Se existo, a minha vida é um degredo!
Por minhas mãos de escravo é que me algemo…
Mas não existo…
- Sonho errante de Alguém que muito amou,
Sou a sombra nostálgica de Cristo,
Sou tudo o que há-de vir, e já passou!
"Quem vive?", pergunto eu.
Meus olhos olham a esmo.
Ando a buscar-me no Céu!
- Sou o Sonho de Mim – Mesmo!
Américo de Oliveira Durão (n. em Couço, Coruche a 28 Out 1894; m. em Lisboa a 7 Mar 1969).
Ler mais poemas de Américo Durão neste blog: Sempre Noiva, Soneto
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