A imposição do poema - João Carlos Taveira
Dissimulado,
o poema se impõe:
aceso o coração,
iluminada a rua,
o poema dá as caras
nas frestas da janela,
põe as manguinhas de fora,
cospe no prato
e, atrevido,
vai realizando,
meio tonto, meio sonso,
sua esfinge de cal,
sua natureza de vento,
sua estrutura de nada.
Inútil, o poema
compõe disfarces:
armada a cilada,
preparado o bote,
o poema primeiro dorme,
descansa seu corpo
de éter, sua alquimia,
na primeira pedra,
ao menor descuido,
para depois,
ágil e confiante,
estabelecer-se inteiro
na superfície rasa
do papel vencido.
João Carlos Taveira (nasceu em Caratinga-MG, em 17 de Setembro de 1947).
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