O Viajante Estrangeiro - Murilo Araújo
Minha viagem na terra
é a de um viajante num país desconhecido,
Não encontro ninguém do meu país.
Os que viajam comigo nesse trem estrangeiro
uns com os outros conversam como amigos...
Que falam eles? - Sei que falam uma linguagem
que, para mim, ai!, nada diz.
Todos podem comprar em aprazíveis paradas
frutos bons como beijos
ou braçadas de flor de um aroma tão bom!
Eu, porém, o forasteiro,
não obtenho esses gozos;
e olho-os, só com o Desejo,
imóvel, escutando a fuga surda do wagon.
Entram as jovens na estação. Que risos claros!
Não são, porém, do meu país.
E viajarei até o final sem nos falarmos,
sem conhecê-las, sem encontrar a frase-chave
com que dizer-lhes quanto me fariam feliz.
Sou de outro reino, onde se fala em melodia
intraduzível neste mundo para alguém.
Falo a música das ondas,
falo a música dos pássaros...
Uma estrela do céu, porém, me entenderia...
porque no céu é assim que se fala também.
Murilo Araujo (n. na cidade de Serro, Minas Gerais, Brasil, em 26 Out. 1894; m. no Rio de Janeiro a 1 Ago. 1980)
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