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2008-03-20

Passemos, tu e eu, devagarinho ... - Reinaldo Ferreira

Passemos, tu e eu, devagarinho,
sem ruído, sem quase movimento,
tão mansos que a poeira do caminho
a pisemos sem dor e sem tormento.

Que os nossos corações, num torvelinho
de folhas arrastadas pelo vento,
saibam beber o precioso vinho,
a rara embriaguez deste momento.

E se a tarde vier, deixá-la vir…
E se a noite quiser, pode cobrir
triunfalmente o céu de nuvens calmas…

De costas para o Sol, então veremos
fundir-se as duas sombras que tivemos
numa só sombra, como as nossas almas.


Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira nasceu em Barcelona (Espanha) a 20 de Março de 1922 e morreu de cancro em Lourenço Marques (Moçambique) a 30 de Junho de 1959. Filho do jornalista Reinaldo Ferreira (Repórter X), estudou no Porto até 1941 e radicou-se desde os 20 anos em Moçambique, onde foi funcionário dos Serviços de Administração Civil da colónia e colaborador do Rádio Clube de Lourenço Marques. Personalidade tímida e esquiva, só em 1960 os seus poemas foram reunidos em volume. Dele disse José Régio: «Este poeta é um pensador, este sensitivo um sarcasta ou irónico, este aceitante do absurdo um raciocinante. E tudo isto compõe o riquíssimo tecido dos seus poemas mais originais».

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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