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2007-10-17

Vertentes - António Ramos Rosa

As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores

Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
Abre as vertentes onde
a água cai sem tempo.

António Ramos Rosa (n. em Faro em 17 Out 1924; ~)

In Poemas de amor - Antologia de poesia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa; Publicações Dom Quixote

Ler do mesmo autor: Não posso adiar o amor...


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