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2007-05-12

Coração Polar (excerto) - Manuel Alegre

Velazquez, Venus at her Mirror, 1649-51


1.
Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.

Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

Manuel de Melo DuarteAlegre(n. em Águeda a 13 de Maio de 1936, ~)

Ler do mesmo autor neste blog:
Coisa Amar
Uma Flor de Verde Pinho
Trova do Vento que Passa
As facas

Pode ainda ouvir a Trova do vento que passa na voz de António Correia de Oliveira no side bar no meu Tunefeed.com ou ver e ouvir em vídeo uma interpretação sensacional aqui


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