NOCTURNO - David Mourão-Ferreira
Flowers in a Vase - Oil on panel, 101 x 76 cm
Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antwerp
BRUEGHEL, Jan the Elder (b. ca. 1568, Bruxelles, d. 1625, Antwerpen)
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Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...
Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.
Era no gira-discos, o Martirio
de São Sebastião, de Debussy....
Era, na jarra, de repente, um lirio!
Era a certeza de ficar sem ti.
Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...
In Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa – de Eugénio de Andrade
Edição Campo das Letras
David de Jesus Mourão-Ferreira (n. em Lisboa a 24 Fev. 1927; m. Lisboa a 16 Jun 1996)
Ler do mesmo autor:
Paraíso
Ternura
Labirinto
E por vezes
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