Tudo é foi - António Gedeão
Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.
in Poesia Completa de António Gedeão
Edições João Sá da Costa - Lisboa
António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) nasceu a 24 de Novembro de 1906 na lisboeta freguesia da Sé e faleceu em 19 de Fevereiro de 1997.
0 comments:
Enviar um comentário