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2005-11-30

As putas da Avenida - Assis Pacheco

Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti pena

Fernando Assis Pacheco (n. Coimbra, 2 Fev 1937 m. Lisboa, 30 Nov. 1995)
in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Porto 2001, Assírio & Alvim


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